7 de maio de 2012

Afinal quem avalizou a morte do centro de Faro



O poder autárquico, nas suas múltiplas faces


Muito se escreve e muito se fala da morte lenta do centro da cidade mas falta a coragem para pôr os dedos na ferida e nos seus responsáveis. E neste falatório lamechas, já toda a gente esqueceu o comércio de periferia.
Faro, como muitas outras cidades foram alvo de planos bem concertados da distribuição dos investimentos do grande capital, que em paralelo com a concentração da oferta imobiliária, também engendraram a oferta da concentração de serviços.
Os centros das cidades eram o alvo a abater em termos de concorrência, fazendo-as perder capacidades de oferta e de comodidade para os visitantes, e é claro, para que estes planos funcionassem, o poder público teria de participar no jogo.
Em Faro, são bem visíveis as marcas deste conluio, com a proliferação das grandes superfícies a proporcionar condições de visibilidade e apetência, enquanto os executivos foram adiando as infraestruturas e a degradação do parque habitacional e histórico do centro da cidade.
Ao fim de duas décadas, a conjugação de esforços deixam os resultados conhecidos a que se soma uma profunda crise económica e financeira com a assinatura dos mesmos autores.
As duas associações que detêm o controlo dos comerciantes, com a falsa teoria de que existem para o foguetório e não para as acções de reivindicação, dormiram sobre os problemas e quem os tramava. São absolutamente corresponsáveis, com sinal negativo agravado para a ACRAL, cuja actividade é serpentear por entre o poder flagelador.
O processo de degenerescência está fora do controlo e as ilusões dos comerciantes não se desvaneceram. Os sinais que se ouvem são de manutenção de uma correlação de forças desequilibrada, por um lado com os decisores políticos desinteressados e impotentes e, do outro, a falta de razões de atracção, a falta de marcas charneira, o envelhecimento pela descapitalização e o desincentivo da taxação da permanência.
A baixa de Faro viveu e vive cada um para si. Os proprietários para o desleixo dos edifícios e os comerciantes para a rivalidade e a exuberância. O poder autárquico, de eleição em eleição, sempre controlou esta relação de forças e tirou partido das suas fraquezas. E os resultados são os piores.
Quando da última campanha autárquica, um telefonema de uma interposta pessoa pediu-me um encontro com o Engº Macário. Disse-lhe que não me interessava mas este deu-se e fiz questão de dizer ao ilustre, que o cerne dos problemas da cidade passava em primeiro grau pela revitalização do centro da cidade. Fez ouvidos de mercador e espero que a população lhe entregue a senha de recâmbio.
Dirão os pensadores que não é tudo e nós sabêmo-lo. Mas o centro é o ponto de partida para o resto. Haja vontade e planos. Mas o que se perfila… com as mesmas cores e vícios…

Luis Alexandre



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