Os apoiantes dos parquímetros
A arte de distorcer
Os parquímetros, essa arte de distorcer as relações sociais
e económicas de uma cidade, tornaram-se numa praga que resulta em grande parte
da má gestão do território, na forma como deve ser usado para servir a
população e as forças económicas.
Com o advento das grandes superfícies comerciais, que pela
sua dimensão e razão de custos procuraram as periferias, começou a agonia dos
centros das cidades e vilas e, por consequência directa, da sua base económica
e residencial.
A mesma disposição para licenciar os espaços de grandes
dimensões, por razões que são menos claras e hoje não podem ser escamoteadas,
não corresponderam à disponibilidade de construir as infra-estruturas de apoio
e serviço da população. Os residentes e comerciantes da baixa de Faro não
perderam a memória.
As grandes superfícies até associaram ao projecto a hipótese
de ganharem dinheiro com o estacionamento mas, rapidamente perceberam a grande
arma que lhes facilitava a vida.
A introdução de regras de ordenamento, se farão sentido em
cidades de grandes dimensões para controlo do tráfego e defesa do património, nas
cidades com a dimensão de Faro são uma medida oportunista de criação de
receitas para os devaneios das autarquias.
Argumentar que os trabalhadores dessas áreas centrais estão
excluídos do uso dos espaços é inaceitável, porquanto são contribuintes do
erário e consumidores.
A baixa de Faro, até à implementação da nova dose de
parquímetros, já se encontrava numa depressão que os autores do projecto
ignoraram e têm deixado correr ao desespero. No contexto de crise, os
resultados só poderão piorar.
Confundir leituras académicas e o oportunismo que
rapidamente se associou com a realidade, subverte o debate e a injustiça da
medida.
Curiosamente, os autores da defesa dos parquímetros, cujas
receitas são incomensuravelmente menores às perdas do centro da cidade, nunca
sobre tal tomaram qualquer atitude. Fica a nota.
Luis Alexandre
(Este artigo foi gentilmente publicado no blogue "A Defesa de Faro", em resposta directa a outro da autoria do arquitecto Paulo Charneca)
Sem comentários:
Enviar um comentário