30 de janeiro de 2012

Em homenagem a 70 anos da Livraria Portugal

A cultura não morre... mesmo que a matem


 
Quando se apaga a memória de um povo, pretende-se com isso que ele não construa um futuro melhor.

O Livro Fechado


Quebrada a vara, fechei o livro
e não será por incúria ou descuido
que algumas páginas se reabram
e os mesmos fantasmas me visitem.
Fechei o livro, Senhor, fechei-o,

mas os mortos e a sua memória,
os vivos e sua presença podem mais
que o álcool de todos os esquecimentos.
Abjurado, recusei-o e cumpro,
na gangrena do corpo que me coube,

em lugar que lhe não compete,
o dia a dia de um destino tolerado.
Na raça de estranhos em que mudei,
é entre estranhos da mesma raça
que, dissimulado e obediente, o sofro.

Aventureiro, ou não, servidor apenas
de qualquer missão remota ao sol poente,
em amanuense me tornei do horizonte
severo e restrito que me não pertence,
lavrador vergado sobre solo alheio

onde não cai, nem vinga, desmobilizada,
a sombra elíptica do guerreiro.
Fechei o livro, calei todas as vozes,
contas de longe cobradas em nada.
Fale, somente, o silêncio que lhes sucede.

 
Rui Knopfli, in "O Corpo de Atena"

2 comentários:

  1. Eles comem tudo, eles comem tudo e está na hora de zarparem! Vamos animar a malta! É o que faz falta!

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  2. Palavras certeiras. Bom blog!

    Haja saúde
    Mano João

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