30 de janeiro de 2015

O IKEA e a caramunha avulso

Texto publicado na edição de ontem o "Barlavento":



O IKEA e a caramunha avulso

Com uma situação de facto consumado e cozinhada ao mais alto nível das governações (começada no Governo de Sócrates e concretizada no de Passos/Portas), o complexo comercial do IKEA no Algarve vai ser concretizado perante as acções de lamúria de um conjunto de associações de verbo de encher.
Independentemente dos argumentos de contestação levados inclusivamente aos Tribunais, que assentam em algumas premissas de inteira justiça não usadas para a instalação do que as associações consideram o exagero de oferta de grandes superfícies na região, o IKEA, como potentado multinacional negoceia ao nível de Estado e aplana os caminhos que pretende alcançar, deixando às instâncias políticas e aos órgãos municipais o papel de validarem as superiores decisões e os argumentos, absolutamente gastos, da criação de postos de trabalho e riqueza, com o grosso em seu proveito, sem uma palavra sobre o rasto de destruição infligido na extensão do tecido económico, que no caso vai do Algarve até Setúbal e zonas fronteiriças de Espanha.
Na contestação de vários anos sobre o anúncio público, que tem tantas reuniões como palavreado para surdos (entidades, o que resta das próprias massas associadas e o público em geral), o intrigante nestes cavaleiros andantes é que já não se critica o projecto na sua flagelação, mas o seu sobredimensionamento(?!), o que, efectivamente ainda baralha mais as mentes de quem tivesse crença no processo paliativo.
Pela leitura dos processos passados que levaram ao tal exagero (não se percebendo a candura da tese do sobredimensionamento...), com casos de contrapartidas reprováveis que poderiam ter sido rondados pela alçada da Justiça, se esta funcionasse, a autognose desta caramunha associativa que se leu já ter ouvido o ranger de dentes do IKEA, não percebe que a sua autoridade está perdida no rasto do passado e que alguns figurantes e associações gozam do beneplácito do poder enquanto lhe forem úteis. Há pessoas e organizações que nunca irão perceber que existem nos assentos e atraem fundos e protecções para sobejas irregularidades de funcionamento, porque têm destinados determinados papéis na conjuntura política... deixando o poder que a caramunha de face não se exceda e vá apenas ao encontro do estrito folclore para consumo de quem tem de arcar com os custos dos planos gizados e lacrados.
O IKEA é uma realidade porque Lisboa manda, como mandou no passado e, não há vespeiro que tenha forma de travar o processo que já está no terreno.

Luís Alexandre
Presidente da ACOSAL

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