O IKEA e a
caramunha avulso
Com uma situação de facto consumado e cozinhada ao mais alto nível das
governações (começada no Governo de Sócrates e concretizada no de
Passos/Portas), o complexo comercial do IKEA no Algarve vai ser concretizado
perante as acções de lamúria de um conjunto de associações de verbo de encher.
Independentemente dos argumentos de contestação levados inclusivamente aos
Tribunais, que assentam em algumas premissas de inteira justiça não usadas para
a instalação do que as associações consideram o exagero de oferta de grandes
superfícies na região, o IKEA, como potentado multinacional negoceia ao nível de
Estado e aplana os caminhos que pretende alcançar, deixando às instâncias
políticas e aos órgãos municipais o papel de validarem as superiores decisões e
os argumentos, absolutamente gastos, da criação de postos de trabalho e riqueza,
com o grosso em seu proveito, sem uma palavra sobre o rasto de destruição
infligido na extensão do tecido económico, que no caso vai do Algarve até
Setúbal e zonas fronteiriças de Espanha.
Na contestação de vários anos sobre o anúncio público, que tem tantas
reuniões como palavreado para surdos (entidades, o que resta das próprias
massas associadas e o público em geral), o intrigante nestes cavaleiros
andantes é que já não se critica o projecto na sua flagelação, mas o seu
sobredimensionamento(?!), o que, efectivamente ainda baralha mais as mentes de
quem tivesse crença no processo paliativo.
Pela leitura dos processos passados que levaram ao tal exagero (não se
percebendo a candura da tese do sobredimensionamento...), com casos de
contrapartidas reprováveis que poderiam ter sido rondados pela alçada da Justiça,
se esta funcionasse, a autognose desta caramunha associativa que se leu já ter
ouvido o ranger de dentes do IKEA, não percebe que a sua autoridade está
perdida no rasto do passado e que alguns figurantes e associações gozam do
beneplácito do poder enquanto lhe forem úteis. Há pessoas e organizações que
nunca irão perceber que existem nos assentos e atraem fundos e protecções para
sobejas irregularidades de funcionamento, porque têm destinados determinados
papéis na conjuntura política... deixando o poder que a caramunha de face não se
exceda e vá apenas ao encontro do estrito folclore para consumo de quem tem de
arcar com os custos dos planos gizados e lacrados.
O IKEA é uma realidade porque Lisboa manda, como mandou no passado e, não
há vespeiro que tenha forma de travar o processo que já está no terreno.
Luís Alexandre
Presidente da ACOSAL