Artigo publicado na última edição do Jornal "Barlavento"
Albufeira entregue aos deuses?
O dia 1 de Novembro, lacrado popularmente como dia de “Todos os Santos”,
consagra a maior cheia deste século, água nada benta que ministerialmente nos
calhou em culpa e, felizmente, em Albufeira, não levou ninguém para os céus
mas, levou muitos dos nossos pertences para o lixo e os recursos para o
desespero.
Este aviso líquido que veio dos céus e percorreu a terra com fúria
pecaminosa, repete-se num curto espaço de sete anos, com o executivo PSD de
poltrona fiado num projecto caseiro, de que três comportas que a ARHAlgarve
subscreveu por atraso e por denúncia e já com o engulho da inundação de 2008
contabilizado em culpa solteira e novo credo na boca, iriam conter a fúria dos
deuses que andam de mal com Albufeira, podem teimar em se instalar e por a nú o
mapa de desordenamento de décadas, onde se salienta um Centro de Saúde, um
complexo de lojas, escritórios e um supermercado de média dimensão em leito de
ribeira...
Escorridas as águas e os habituais rituais oficiais das palmadinhas nas
costas e os olhares hipócritas para o desconsolo espalhado no solo e nas portas
adentro, começam os raciocínios das partes, de quem se vê em lágrimas e quem as
provoca, esbarrando quem sofre no show-off de um ministro apostólico e de um
executivo que se refugia nesta autoridade pouco católica, que diaboliza quem
não tem meios para ter seguros, de uma maneira geral ineficazes e caros. Os
empresários e a população, que pagam as taxas mais caras do país como ônus da
bancarrota camarária, já aliviada com os nossos impostos e superavit de 40
milhões nos cofres, não vão ter socorros públicos nem recurso a uma Banca
generalizadamente falida mas, o executivo fautor pode respirar porque lhe deram
três Fundos para respirar...
Nesta análise de quem nos mete a água em casa, temos de chamar à corrente
outro aspecto de um país pouco solidário e criteriosamente organizado,
inclusivé na Lei, para reagir e não para agir. Se a crença do executivo se
pauta por deixar uma baixa de cidade ao dispôr dos céus sem que cumpra a sua
responsabilidade de procurar soluções para várias horas de chuva, obrigando a
lei e as responsabilidades a fazer leituras históricas de cem anos e
interpretações mais perto dos novos factores climáticos, tropeçamos numa
Protecção Civil que chega sempre depois, seguindo a tradição de ser reactiva e
não proactiva, o que poderia ter evitado custos e sofrimentos consideráveis e
expostos. Com os meios científicos existentes e considerando que os
profissionais do Tempo garantem 48 horas de quase rigor, estranha-se que uma
força dotada de meios como esta suposta Protecção não tivesse agido...
Com os males e as maleitas em curso e afundados em fugas de palavras ao
vento, esperemos que as fezadas do ministro Calvão, curiosamente com a tutela
da Protecção Civil e que já esteve ligado aos interesses dos Seguros, do
Governo e do executivo, todos do PSD, não nos deixem entregues aos deuses...
que é o mesmo que dizer à incúria!
Luís Alexandre
Presidente da ACOSAL