O meu discurso de Abril
O 25 de Abril leva 40 anos e eu 60. Cruzámo-nos quando eu já
trabalhava outras consciências para a sua necessidade. A ditadura estava
a matar jovens numa guerra injusta, a matar portugueses com os salários
de miséria e a empurrar muitos para os arames farpados da emigração, à
qual o Estado fascista nunca deu qualquer apoio lá fora e apenas lia os
números das transferências bancárias.
As notícias do meu acordar pouco depois das sete da manhã daquele dia
foram o meu grito de satisfação. O meu peito vestiu as calças e rumei
para dar algo mais de mim. Vagueei e acabei no Largo do Carmo. Fui
espectador da rendição mas, não fui espectador dos tempos seguintes de
mudança, onde o povo queria um rumo e muitos autores do golpe queriam
outra! Governos Provisórios e Definitivos (Constitucionais) seguintes,
nos lençóis de seda de serem eleitos, construíram um caminho que matou o
investimento de Abril. Em quarenta anos fizeram o esforço do povo
trabalhador morrer por três vezes nos buracos financeiros do Estado. Em
quarenta anos as mesmas famílias partidárias, mais ou menos
metamorfoseadas, impuseram a lei que agora tira de novo o pão da boca de
quem tudo produz. E ainda enfrentamos um Governo de traidores sem
escrúpulos que, enquanto Soares falava de luz ao fundo túnel do roubo,
este diz-nos que o túnel vai para 30 anos...
E eu vou comemorar o quê a 25 de Abril? Não terei de voltar a apregoar a insurreição? Não tenho escolha nas minhas convicções!
LA Abril 2014
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