Razões para a queda e falta de futuro
Muitos falam e outros escrevem sobre Faro, clamam o
declínio, lambem-lhe as feridas, profundas, choram os prejuízos do seu tecido
económico central e repetem soluções que, ou não são ouvidas ou para as quais
não têm intenção de se mobilizar.
As duas últimas décadas de enaltecimento da nação para
cobrir uma larga irresponsabilidade política de um progresso feito em cacos,
tal como os analistas em contrição lhe atribuem o delírio nacional de crescimento
assente em pressupostos errados, também em Faro temos largas manifestações
dessa elevação política que foi alargando os limites sem cuidar de preservar e
dar fôlego ao coração.
A especulação aliciou, montou o seu quadro fantástico de
grandeza e abundância onde qualquer autarca se revia e delirava de exaltação
pública de obra e poder, e ,no sentido oposto, renunciava ao bom senso de
preservar o que de histórico alimentou a cidade e as suas gentes, em páginas de
história que sempre nos engrandeceram.
O abandono que hoje representa um retrato negro de um centro
histórico envelhecido tem razões de culpa na cegueira da condução política
autárquica, na forma como embalaram em estratégias de avultados proveitos
imediatos para os cofres e não devolveram qualquer retribuição às origens.
A baixa, os seus empresários e as suas associações foram actores
passivos, resmungaram, assistiram, nunca assumiram as suas ilusões e ineficácia
e a saída foi o colaboracionismo com os que no poder os prejudicavam, um pouco
dando razão aos apelos individualistas que os caracteriza, porque ainda nem
tudo estava perdido, quando o caminho estava bem claro.
O poder local sabia o que queria, o seu impulso estava na
ostentação dos tempos, no eleitoralismo, nas soluções ocasionais, no
facilitismo bem compensado pelas grandes superfícies que tomaram as rédeas a
nível nacional e estenderam as influências a partir das ordens e das
obediências devidas ao centralismo.
Planos nunca foram desenhados para qualquer intervenção
estrutural na baixa de Faro, leis foram postas na gaveta porque feriam os
interesses instalados de eleitores e financiadores de campanhas, as paredes e
as casas foram e vão caindo, num apodrecimento que tem vários níveis de
cumplicidades.
Mas os cúmplices não querem ver e a ladainha continua a ser
traço essencial dos discursos.
A baixa está mesmo condenada. E os condenados continuam a
assinar. Então do que se queixam?
Luis Alexandre