Texto publicadona edição de hoje do jornal "Barlavento"
Uma visão
estratégica para a sustentabilidade de Faro
Há poucos dias num café da baixa da cidade, a conversa entre dois
funcionários que vivem de comissões, logo do ritmo da actividade, era de que
Faro estava a aprender as dificuldades da sazonalidade, queixas que ouviam de
outras partes da região. Trantando-se de pessoas que conheço e me conhecem,
intrometi-me na conversa e expus-me: amigos, Faro está em queda por falta de um
quadro objectivo de estratégia de desenvolvimento! Abandonando o desânimo, de forma
expontânea, verberaram-me: como?
Faro é a cidade algarvia de maior distinção, menos compactada que outras, tem
bons corredores de tráfego, com o património histórico melhor conservado, uma
estrutura museológica e cultural atractiva, um arregimentado de edifícios
nobres de uma anterior pujança comercial, beija o deslumbramento da Ria Formosa
e reune condições de uma frente marítima de eleição para o aportar da
navegabilidade desportiva, de aventura e porque não de Cruzeiro? Tudo em seu
tempo. Estas virtudes apenas precisam de um plano de frente marítima da cidade,
transpondo o parque de estacionamento de barcos na chamada “Doca” para o outro
lado da linha férrea que deve ser conservada para o projecto futuro dos
comboios ligeiros, em que outros municípios gastaram muitos milhões para a
comodidade e funcionalidade dos cidadãos.
Faro, transposta a linha férrea secular de forma inteligente e estética,
sem que isso represente a destruição da sua nobre Estação da CP, deve construir
o passeio marítimo circundante com uma frente hoteleira de baixa altitude e
densidade, salpicada de unidades de restauração, associadas a uma extensão de
praia de cidade, de areia branca e fina (deve ter sobrado alguma depois do
saque autorizado para a construção civil), a meio passo e uso das vistas dos
milhares de visitantes que não hesitariam em fazer funcionar as linhas aéreas
de baixo custo e estas unidades de alojamento, desfrutando ao longo do ano das
excelentes potencialidades que a cidade capital tem para oferecer, até como
ponto de partida e factor dinamizador de outras partes do Algarve. Esse passeio
marítimo seria ele próprio o elemento atractivo da aproximação da população concelhia
ao cheiro da maresia, descendo as famílias para o sol, as sombras e as cores,
trazendo os filhos e os netos a brincar em segurança e ao convívio, alavancando
fontes de energia financeira para o desenvolvimento da baixa da cidade, onde o
espelho de água da Doca deve ser embelezado e usado para museu marítimo...
Não há projectos impossíveis neste âmbito. Faro tem uma frente marítima
invejável que deve ser trabalhada de forma inteligente, por fases, que apontem
para um objectivo de desenvolvimento estruturante. A principal fonte de riqueza
nas actuais condições específicas da capital é a que pode ser encontrada na
limpeza de uma zona abandonada, fazendo a ligação ao mar, tomando como exemplo
a revolução operada com a Expo 98, porque o crescimento no sentido do novo eixo
viário não tem viabilidade nas próximas décadas. Será que não se percebe isto ou
vamos continuar com a política de fretes às grandes superfícies, com o IKEA à
porta?
Luís Alexandre
Cidadão